Biblioteca Pública do Paraná nega acessibilidade

Pois bem, é a terceira vez que desisto de entrar na biblioteca pública, pois não há rampa de acesso de quem vem da Ébano Pereira para a biblioteca. Eu teria que andar mais uns 600 metros para acessar. Para quem anda de bengala em longas distâncias é muito difícil.

A foto demonstra que há espaço para construir uma rampa de acesso.

Por favor… consertem isso. De quem é a deficiência? Do gestor público ou minha?

Aliás vou notificá-los extrajudicialmente. Não precisa da assinatura de um advogado (a), mas se algum advogado (a) militante quiser assinar eu aceito.

Michael Sandel – O que é justiça?

Realizei a leitura do livro de Michael J. Sandel – Justiça o que é fazer a coisa certa – com o intuito de responder as duas questões, a seguir apresentadas. Pois bem, quem é Michel Sandel? É filósofo e professor em Harvard, ministrou durante anos, e, ainda ministra, um curso denominado Justiça, freqüentado por mais de 15 mil alunos. Dada a popularidade esse curso virou uma série com 12 episódios e agora o livro, já um Best seller.

Livro Sandel

Como todo filósofo comprometido em retirar os “reles mortais”, isto é, nós que não somos filósofos, da zona de conforto, Sandel, apresenta grandes questões e discussões filosóficas de forma dividida. Primeiramente utiliza a “filosofia antiga” de Aristóteles, calcada na virtude, e, por outro lado, Kant e Rawls, representando a “filosofia moderna”, com fulcro na liberdade. Bom, essas duas palavras vão muito além de palavras, pois são conceitos que interferem em nossas vidas cotidianas, o tempo todo.

Então, o movimento interessante e inteligente de Sandel é o de trabalhar com “pequenos” dilemas da vida cotidiana e mostrar o quão profundo e filosófico eles são, daí a sagacidade do livro e o fato de ser tão procurado pelos jovens estudantes de Harvard. Como exemplo, jogar o trem sobre uma pessoa para salvar cinco pessoas, pode? – Qual é o valor da vida, que valores buscar: virtude ou liberdade?

O mote do livro é refletir sobre a justiça a partir de três óticas diferentes:

1) aumento do bem-estar;

2) respeito a liberdade; e

3) promoção da virtude.

Mas para tratar desses temas aparentemente prosaicos há dois problemas que conduzem a sua reflexão:

1)    Uma sociedade justa procura promover a virtude dos seus cidadãos?

2)    Ou a lei deveria ser neutra quanto às concepções concernentes à virtude, deixando os cidadãos livres para escolher por conta própria como qual é a melhor forma de viver?

Parece-nos que a chave para essas perguntas estão na página 323, quando ele desenha uma resposta: “(…) se uma sociedade justa requer um raciocínio conjunto sobre a vida boa, resta perguntar que tipo de discurso político nos conduziria nessa direção” (Sandel,  2016, p. 323 – grifo da autora).

Essa breve e leve discussão é para demonstrar o quanto esse livro é importante, pois a filosofia e os nossos “pequenos” dilemas não tem fronteiras, pois somos todos humanos, americanos, mexicanos e brasileiros. Especialmente, quando Sandel mostra como chave para a construção de uma narrativa que nos devolva a humanidade passa pela política. Hoje, em termos de Brasil, precisamos muito alinhavar uma narrativa e colocar no eixo os grandes fios condutores de uma sociedade, pois o da nossa, está absolutamente descarrilado. E a reflexão nos leva a recondução desses rumos.

Então, não gostei, adorei o livro, pois ele nos leva a pensar sobre a sociedade que queremos e qual a base moral (filosófica) que conduz essa sociedade.

Como bem nos apresentou Sandel, não há uma receita de bolo. Mas o caminho certamente é o da reflexão, da dúvida, da incerteza e de que esse caminho é construído, não é dado, e obviamente não é hegemônico, pois se hegemônico, seria totalitário. Logo, cada sociedade, galga o seu. Fazer a coisa certa é realizar a mediação de vários valores e as conseqüências dessas decisões. Fazer a coisa certa sempre desagradará alguns e agradará a outros, pois não existe a coisa certa, existe a coisa a ser feita, e isso é mediado pela questão concreta.

A vida não é feita de certezas, mas sim de incertezas, é o tal do “equilíbrio instável” do grande antropólogo Lévi Strauss. E, a sociedade que não pára de repensar parece apresentar ganhos em termos de escolhas. É como pensar no processo, há partes, se há partes há olhares diferentes sobre o mesmo objeto, e a busca do equilíbrio parece ser a medida da razão, isto é, não ter medida. São sim, as sucessivas ponderações que fazemos no nosso dia a dia.

Daí a riqueza de nos incomodarmos com o que não é normal… pobreza não é normal… desigualdade exacerbada economicamente não é normal. Para finalizar fazer a coisa certa é ter a capacidade de indignação e a busca pelas respostas, como a banda Plebe Rude, nessa música, que é também filosófica, mas com outro ferramental, não menos importante, mas sim diferente:

(…) Com tanta riqueza por aí

Onde é que está cadê sua fração

Até quando esperar

Até que ajoelhar

Esperando a ajuda do Divino Deus (…).

Referências

MENEZES, Perseu Frazão de. Resenha, 03/04/2017. SANDEL, Michel J. Justiça: o que é fazer a coisa certa. Acesso em: 22/09/2017 Disponível em:

http://blogs.gazetaonline.com.br/lideres/2017/04/03/resenha-destaque-do-mes-de-fevereiro-justica-o-que-e-fazer-a-coisa-certa/

PLEBE RUDE. Até quando esperar. Álbum o concreto já rachou, 1985. Acesso em: 22/09/2017 Disponível em:  https://www.google.com.br/search?q=m%C3%BAsica+plebe+rude+at%C3%A9+quando+esperar&oq=m%C3%BAsica+plebe+ru&aqs=chrome.2.69i57j0l5.9409j0j8&sourceid=chrome&ie=UTF-8

SANDEL, Michel J.  Justiça: o que é fazer a coisa certa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.